“O modelo dos modelos”
Italo Calvino
Houve na vida do
senhor Palomar uma época em que sua regra era esta: primeiro, construir um
modelo na mente, o mais perfeito, lógico, geométrico possível; segundo,
verificar se tal modelo se adapta aos casos práticos observáveis na
experiência; terceiro, proceder às correções necessárias para que modelo e
realidade coincidam. [..] Mas se por um instante ele deixava de fixar a
harmoniosa figura geométrica desenhada no céu dos modelos ideais, saltava a
seus olhos uma paisagem humana em que a monstruosidade e os desastres não eram
de todo desaparecidos e as linhas do desenho surgiam deformadas e retorcidas.
[...] A regra do senhor Palomar foi aos poucos se modificando: agora já
desejava uma grande variedade de modelos, se possível transformáveis uns nos
outros segundo um procedimento combinatório, para encontrar aquele que se
adaptasse melhor a uma realidade que por sua vez fosse feita de tantas
realidades distintas, no tempo e no espaço. [...] Analisando assim as coisas, o
modelo dos modelos almejado por Palomar deverá servir para obter modelos
transparentes, diáfanos, sutis como teias de aranha; talvez até mesmo para
dissolver os modelos, ou até mesmo para dissolver-se a si próprio.
Neste ponto só
restava a Palomar apagar da mente os modelos e os modelos de modelos.
Completado também esse passo, eis que ele se depara face a face com a realidade
mal padronizável e não homogeneizável, formulando os seus “sins”, os seus
“nãos”, os seus “mas”. Para fazer isto, melhor é que a mente permaneça
desembaraçada, mobiliada apenas com a memória de fragmentos de experiências e
de princípios subentendidos e não demonstráveis. Não é uma linha de conduta da
qual possa extrair satisfações especiais, mas é a única que lhe parece
praticável.
o texto acima mostra que modelos prontos se chocam com a dinamicidade da realidade, nada é estático, tudo está em constante transformação. Se voltarmos na historia da nossa educação esses modelos imperaram durante muitas décadas e ainda hoje temos resquícios de sua marca no ensino atual. Com o processo de inclusão esse paradigma vem sendo quebrado, pois é um processo que trouxe um desenquilibrio aos métodos enraizados com tempo nas salas de aula, por não atender definitivamente a nova demanda, fervilhando o meio científico em busca de respostas as novas dúvidas, isso já vem acontecendo a algumas décadas no Brasil. O AEE representa um grande avanço nesse processo de inclusão, espaço que a aprendizagem não está ligada a um método pronto e acabado, pois não se trabalha com a deficiência e sim com um sujeito portador de uma limitação, que tem vontades e anseios próprios e sua singularidade no mundo que o cerca. Quando se olha um sujeito e se ver primeiro a sua deficiência, nos limitamos a ela, trazendo prejuízo ao seu desenvolvimento como indivíduo pensante e aprendente e não valorizamos sua condição humana. Quando se fala de inclusão, modelos não existem e sim possibilidades, a realidade é o marco inicial para nossa prática em sala de aula, momento de repensar, refletir e transformar , a flexibilidade é a palavra chave, é arrumar e desarrumar e arrumar novamente, isso trás uma riqueza a prática do professor, pois possibilita a grandeza de visão sobre novos horizontes e possibilidades.